Blocos de encaixar
Não é estranho, o modo com o qual nunca estamos satisfeitos
com nada? Construir padrões inatingíveis parece ter se tornado o maior hobby do século XXI, e quando Arthur
Schopenhauer dizia que raramente valorizamos o que temos, mas sempre o que nos
falta, ele soa cada vez mais coerente. Certo dia, me percebi nesta situação – a
qual assumo ser mais frequente do que você imagina – de hipervalorizar dotes
alheios enquanto deprecio minhas próprias habilidades: estávamos eu e uma amiga
estudando; ela é boa em matemática e eu, em linguagens. Sempre admirei o modo com
o qual ela lidava com os números, e admito ter cobiçado, por muito tempo, tal
capacidade. Em uma conversa informal com essa colega, percebi algo de que
jamais havia me dado conta: sou boa escrevendo, e ela também ambicionava minha
aptidão. Ora, ambas tínhamos vocações, mas nenhuma de nós se sentia satisfeita
com o que lhe cabia. É doloroso perceber-se vítima de padrões que você mesmo
constrói, porque fugir desses é mais difícil do que parece: eles estão dentro na
sua cabeça, e escapar de si mesmo é improvável. Isso me remete àqueles jogos de
encaixar bloquinhos coloridos em buracos de formatos diferentes com os quais
brincamos, quando crianças; o problema é que parecemos não abandonar esse
hábito ao crescer, mas agora, aderimos nossas personalidades, ao invés de
blocos, a parâmetros impossíveis. Puxa! Você não pode acomodar um cilindro nos
moldes de um cubo, então como moldará um linguista nas formas de um matemático?
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